Livro onde contem o conto em questão |
Título:
Virginius
Subtítulo: Narrativa de um advogado
Livro: Publicado originalmente no
Jornal das Famílias – Agosto de 1864
Referência Biográfica:
MACHADO DE
ASSIS. Virginius: caso de um advogado. In: CORDEIRO, M. V. (Org.).
Reminiscências jurídicas na obra de Machado de Assis. OAB-RJ/Petrobras.2008.
Biografia do Autor:
Nome: Machado
de Assis Nascimento:
21/06/1839 Natural: Rio de
Janeiro RJ Morte:
29/09/1908
Dizem os críticos que Machado era "urbano, aristocrata, cosmopolita,
reservado e cínico, ignorou questões sociais como a independência do Brasil e a
abolição da escravatura. Passou ao longe do nacionalismo, tendo ambientado suas
histórias sempre no Rio, como se não houvesse outro lugar. ... A galeria de
tipos e personagens que criou revela o autor como um mestre da observação
psicológica. ... Sua obra divide-se em duas fases, uma romântica e
outra parnasiano-realista, quando desenvolveu inconfundível estilo desiludido,
sarcástico e amargo. O domínio da linguagem é sutil e o estilo é preciso,
reticente. O humor pessimista e a complexidade do pensamento, além da
desconfiança na razão (no seu sentido cartesiano e iluminista), fazem com que
se afaste de seus contemporâneos."
Obras Similares:
crônica Bons Dias - maio de 1888
Pai
Contra Mãe – 1905
“Castro Alves escrevia sobre a violência explícita a que os escravos
estavam expostos, enquanto Machado de Assis escrevia as violências implícitas,
como a dissimulação e a falsa camaradagem na relação senhor e escravo. ”
O conto “Virginius
(narrativa de um advogado) ” foi publicado originalmente no “Jornal das
Famílias” em agosto de 1864 e acabou não sendo republicado por Machado de Assis
em vida. Em 1959, a Editora Nova Aguilar lança, em primeira edição, a Obra
completa de Machado acrescentando contos não publicados em livros pelo autor.
Um exemplo disso é o título “Outros contos”. Durante seu enredo, você depara-se
com a presença de representantes opositivos da classe dominante. Além disso,
vale dizer que a narrativa “atua como exemplaridade de relacionamentos viciados
no sistema social escravista. A violência marca os vínculos e,
concomitantemente, significa a única possível saída para as situações
conflitivas”
No que diz
respeito ao título do conto, é possível uma explicação a partir do próprio
narrador que “diz referir-se à tragédia de Virginius, da sociedade romana, há
vinte e três séculos. Nessa tragédia, Ápio Cláudio apaixonou-se por Virgínia,
filha de Virginius. Como foi impossível conquistá-la, o único meio que restava
ao apaixonado foi escravizá-la”. Assim, “foi ao tribunal reclamar a entrega de
sua escrava Virgínia. O infeliz pai, sem conseguir evitar o infortúnio, nem por
meio de suas súplicas, nem por meio de ameaças, cravou uma faca de açougue no
peito de Virgínia”
Cabe
ressaltar que o conto já resguarda a atenção de um olhar jurídico por causa do
seu próprio título. Isso, levando-se em consideração que fica explícito a
retratação de uma trama narrada, de modo específico, por um advogado, tal como
de fato acontece. Em um contexto temporal, tem-se que “Virginius (narrativa de
um advogado) ” se passa no Brasil do século XIX, na véspera das festas de São
João.
Por tudo
isso, o estudo em questão elucidará tanto a representação de situações
jurídicas típicas quanto, principalmente, a marcação do elemento espacial.
Assim, adianta-se que “o espaço narrativo tem enorme relevância na constituição
de sentidos da narrativa literária, visto que os fatos ficcionais só conseguem
erguer-se a partir de uma localização que lhes dê sustentação e sentido”
Desse modo,
não é estranho, porém, que caminhando para o encerramento da narrativa com o
réu da história sendo levado a júri, será retratado o próprio instituto do
Tribunal: “Poucos dias depois instalou-se o júri onde tinha de comparecer Julião.
De todas as causas, era aquela a que mais medo me fazia; não que eu duvidasse
das atenuantes do crime, mas porque receava não estar na altura da causa.
Trata-se de uma localização de suma importância para esclarecimento e resolução
da trama suscitada no delongar do texto literário.
É nesse
contexto que a presença do positivismo se mostra de forma bastante clara. Os
vários argumentos e as circunstâncias que se levou ao ato do crime poderiam
servir de atenuantes do delito ou os próprios juízes poderiam considerar se já
não a consideraram como tal. Entretanto, num universo onde o positivismo
impera, onde a lei se sobrepõe ao julgador o crime foi considerado como crime,
não importando as circunstancias, nem o fato de o réu já ter sido punido apenas
com a própria tragédia da morte da filha. Sendo dada a condenação.
O caso foi julgado pelo método empírico, característico do positivismo, em que
o caso é analisado e é aplicada a lei sem que sejam avaliadas características
exteriores ao simples fato. É aplicado com rigor o puro texto da lei levando
Julião a cumprir dez anos de reclusão.
No conto,
machado recontextualiza a tragédia romana que conta a história de Virgínius,
sua filha Virgínia e o mais popular dos decênviros, Ápio Cláudio que o próprio
advogado do conto relembra ao tomar conhecimento da semelhante fatalidade.
É inspirado nessa mesma tragédia que o autor monta o enredo dessua história em
que um pai preocupado com a honra da filha vê como única escolha a de matá-la.
Um sacrifício em troca da defesa da honra da mesma. Poupando assim a jovem de
carregar pelo resto da vida a marca do acontecimento. Esta desonra acarretaria
a uma possível vida desmoralizada e hostilizada pelo olhar atravessado e
preconceituoso da sociedade. Sob tais condições Elisa provavelmente não
conseguiria contrair um casamento, podendo até ingressar na vida de prostituta,
o que era comum naquela época às mulheres consideradas “maculadas” que
dificilmente conseguiam se casar.
Fatalidades semelhantes movidas por causas iguais.
Porém, com um veredito diferente. No caso ocorrido em Roma o pai, Virginius, é
inocentado pela queda dos descênviros. Já para Julião, como dito pelo bacharel
do direito: “não haviam decênviros para abater nem cônsules para levantar...”.
Ainda que prevendo a sua condenação, o réu preferiu carregar o peso da lei e da
consequência do crime cometido do que o peso da desonra de sua filha. Dessa
forma fica evidenciada a preservação da honra como prioridade moral, mas,
sobretudo o Positivismo como primado do sistema jurídico daquela época, acima
de qualquer circunstância.
Por final,
porque ler Machado de Assis; Mas o fato é que a melhor razão as pessoas não
dizem: ler Machado é muito engraçado. Suas histórias são irônicas, reveladoras
de coisas que todo mundo sabe, mas não comenta... Elas falam de valores morais
que todos criticam, mas têm.
Quando alguém
diz que Machado é "cético", é disso que está falando: esse ótimo
escritor não acreditava nas boas intenções, na bondade, na generosidade, no
amor romântico, na eterna lealdade.